quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O telefonema


O telefonema

Escuto um barulho estranho.
Reviro meu quarto procurando o som, que me tira do sério.
É meu celular.
Olho.
Não conheço esse número.
Automaticamente, aperto uma tecla.

Rejeitar.
Novamente ouço aquele barulho irritante.
Impaciente desligo mais uma vez.
Ando pelo quarto, tentando voltar ao que eu estava fazendo.
Até que o celular insiste em tocar mais uma vez.
Eu ignoro e deixo tocar.
Ele toca tanto, tanto.
Nervosa, resolvo atender.
— Alô. Atendo irritada.
Nenhum som atravessa a linha.
Novamente, repito.
— Alô. Completamente sem calma.
Até que alguém toma coragem e responde.
— Olá.
— O que você quer? Digo seca.
— Ouvir sua voz. 
— Você tá de brincadeira comigo, não é?
— Não.  Responde a voz desconhecida.
— Afinal, quem é você?
— Só mais alguém que você não notou.
Conto até três mentalmente, tentando não desligar.
— Não gosto desse tipo de jogos.
— Não parece. Diz ele quase rindo.
— Olha, eu não sei quem é você e não entendo porque justamente me escolheu pra mais uns desses trotes. Então não me faça perder mais o meu tempo.
Quase desligando ouço a voz dizer algo.
— Espera.
Não desligo, mas fico em silêncio.
A voz começa:
— Não é nenhum trote. Não desligue. Apenas me deixe falar tudo bem?
Prossigo em silêncio.
— Você diz não gostar de jogos, mas adora apostar seu coração. Principalmente em jogos que você acaba perdendo não é mesmo minha pequena?
Acho estranho mais decido continuar ouvindo.
— Minha pequena sim. É assim como eu te chamo.
Silêncio.
— Bom… Esquece, não deveria ter te ligado.
— Não. Espere. Continue.  Resolvo interferir.
— Pensei que não quisesse me ouvir…
— Na verdade não, mais você já tomou todo meu tempo, então aproveite é todo seu.
— Promete não desligar?
— Como vou fazer promessas a alguém que nem mesmo sei o nome.
— Não posso dizer meu nome, mas tudo bem, só tente ouvir tudo, e se depois quiser desligar eu entenderei.
Resolvo não me pronunciar dessa vez.
Ele então começa:
— Bem, eu sei que não deveria ter ligado, e sei também que te assustei te chamando de minha pequena. Mas eu ando me contendo tanto, que já não me aguento mais nesse silêncio. Tenho tanta vontade de pegar-te nos braços e levá-la pra longe, comigo. Tentar curar essa dor que atormenta seu peito. Eu queria ser o ele dos teus textos mais profundos e emocionados. Queria poder apenas fazer você sorrir de novo. Ah aquele seu sorriso lindo, você não sabe como eu daria tudo se algum dia eu pudesse ver você sorrindo assim pra mim, se soubesse o quanto te quero garota… Sei que não sou ele, e também não quero ser, sei que não sou o mais bonito nem o mais inteligente, mais sou aquele que mais te amou em toda vida, e o que sempre vai estar à espreita te olhando de canto, sem que você perceba. Dê-me a oportunidade pequena de te ter pra mim, de tirar toda essa sua dor. Porque anoite eu sei que você chora. E sei também que se faz de forte tentando esquecer aquele que um dia feriu teu coração. Mas não importa quero ficar ao teu lado, quero te chamar deminha, te ninar em meus braços e te observar dormir. Quero te ensinar a me querer, e querer bem a vida. Será que você não percebe que o passado não volta, e que não adianta continuar sofrendo assim. Eu estou aqui. Mesmo que você não enxergue. Eu estou cuidando de você em pensamento, estou te protegendo. E vou continuar se você me deixar tentar ganhar teu coração. Eu te amo garota. Eu te quero. Eu quero lutar por você minha pequena.
Tento não chorar, mais não consigo.
— Ei meu amor, não chore, não estou brincando, não sou qualquer um que vai quebrar teu coração, eu vim consertá-lo, vim cuidar de você. Deixe me fazer isso por você, por mim. Deixa eu te amar…
— Então quem é você? Digo.
— Eu sou seu.
— Não sei se isso basta. Tudo bem chega de brincadeiras, não vou me iludir com um simples telefonema.
Desligo.
O telefone toca incansávelmente, mais decido não atender. Nunca mais.
Os dias se passam, e aquela voz não sai da minha cabeça.
Aquele telefonema não sai da minha cabeça.
Pego o telefone e ligo pro mesmo número desconhecido que naquele dia resolveu me ligar.
Espero. Espero. Nada.
— Mas é claro, era só um trote, e você aqui acreditando sua tola. Acreditando que alguém poderia gostar de você.
Resolvo dormir, aos prantos, com a dor novamente em meu peito.
A campainha toca.
Não vou atender chorando assim, que toque até cansar…
1, 2, 3, 4… Quantas vezes mais essa pessoa vai insistir e se convencer de que não tem ninguém em casa?
Cansada, resolvo atender.
Abro a porta.
— Olá. Diz um lindo rapaz.
— Olá. digo reconhecendo a voz de algum lugar — Posso ajudá-lo?
— Eu espero que sim.
Solto um sorriso involuntário.
Ele logo dá um passo à frente ficando um pouco mais perto de mim.
— Primeiro seria bom se você tivesse aceitado as minhas últimas ligações aquele dia. Diz o rapaz com um sorriso lindo de canto de boca. — E seria melhor ainda se você aceitasse todas as condições que propus a você naquele telefonema. Não era um trote, e vim provar a você.
Surpresa e envergonhada abaixo a cabeça.
Com um toque delicado ele toca meu rosto e o levanta devagar, para que meus olhos se encontrassem com os dele.
— Você pensou que era uma mentira, estou certo? Estou aqui pra te provar que em qualquer circunstância eu viria por você, estou aqui porque não me aguento mais longe de você, sei que sou um tolo, mas não conseguiria dormir essa noite sem que viesse falar com você. Olhe pra mim. No fundo dos meus olhos. Não vou te machucar, me deixe cuidar de você.
Quase desabo nos braços daquele rapaz, afoita olho incansávelmente pra ele, tentando acreditar que tudo não é só um sonho.
— Eu posso te dizer meu nome se quiser, e se não gostar desse eu posso mudá-lo, faço o que for preciso pra ter um tempo contigo, pra te provar que vai valer à pena.
Antes que eu pudesse responder, ele chegou mais perto, tocou meu rosto, me olhou com ternura e selou nossos lábios.
Um beijo calmo, carinhoso. Um beijo de amor.
Entreguei-me. Ao beijo. Ao rapaz.
Senti lentamente nossos lábios se separarem, e eu ainda de olhos fechados sem chão o ouvi dizer:
— Fernando.
— O que?
— Meu nome. Fernando.
Desconcertada, sorri.
— Não vai me convidar pra entrar?
Ah, que estúpida, mal me toquei que estávamos na porta de casa, me senti uma tola. E rapidamente dei um passo atrás dizendo:
— Não quer entrar?
— Se for pro teu coração. Sorriu lindamente.
Mal sabia eu que naquela tarde linda eu conheceria o futuro pai dos meus filhos.
Fernando.
O meu verdadeiro e mais puroAmor.

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